OPINIÃO
Vamos neste fim de semana entrar no assunto mais polémico entre os profissionais do Djing: Vinil/Cd vs Digital Djing. Com este artigo o Cultura de Dj pretende fomentar a discussão saudável sobre o assunto sem querer tomar partidos, ao mesmo tempo em que apresentamos a nossa opinião em relação a cada um dos formatos de Djing. Este artigo será baseado na leitura que tenho feito nos últimos meses sobre o assunto, enquanto tentarei da mesma forma dar enquadramento a uma matéria polémica que explica de forma "crua" esta questão pelo francês François K (François Kevorkian) um dos maiores remixers na e-music mundial.
VINIL
Talvez um dos primeiros formatos a entrar no circuito profissional do Djing. Quem ainda usa este formato garante que a música é sentida de uma forma diferente e que esta é a forma mais pura do Djing. Eu como pessoa que entrei no Djing na era digital, não tenho referências em relação ao vinil exceto como puro "ouvinte" nos sistemas caseiros nos anos 80. De qualquer forma, acredito que no mínimo é curioso que a maioria da legião de seguidores e fãs do formato no panorama atual do Djing, tenham algo que poderá ser considerado como descriminação em relação aos Digital Djs o que é lamentável. Outra referência curiosa é que a nível mundial os trabalhos editados em vinil de grandes produtores atinja a marca de até 500 unidades vendidas. Isso mostra de alguma forma uma hipocrisia pois, se de fato existe um número que ultrapassa as dezenas de milhar de defensores do formato, por outro lado esses mesmos defensores não contribuem de forma ativa na manutenção do vinil com a compra de trabalhos nesse formato. Com isso as editoras por mais vontade que possuam acabam percebendo que não é rentável continuar a editar trabalhos nesse formato pois não lhes trás algo que move o mercado: lucro. Quero deixar claro que respeito qualquer formato de Djing e o vinil de fato é dos mais tradicionais e clássicos que me posso lembrar. Eu próprio já dancei bastante ao som destes formatos em clubes na europa. Não é por isso no entanto que como Digital Dj tenha alguma coisa contra os usuários de Vinil, pelo contrário, acredito que quem gosta do formato deve realmente continuar com ele mas, ao mesmo tempo deixo a dica para que se gostam do formato, consumam discos em vinil e fomentem o aumento da produção industrial. De nada adianta defender teóricamente o vinil e na prática em 12 meses não comprar nem 1 vinil sequer. Acredito que aqui o importante é que cada profissional toque com o setup que considera mais relevante e confortável para seus sets.
CD
Este é sem dúvida o formato que ganhou maior repercusão mundial. No momento em que surgiu no Djing, encontrou muitos profissionais fechados ao seu uso tal como acontece agora com o Digital Djing. De qualquer forma, os anos passaram e o surgimento de vários equipamentos que focavam o formato cd (Especialmente os CDJ's da Pioneer) "obrigaram" de alguma forma à migração de formato. Os Dj's que usam CD também somam uma grande comunidade "contra" o uso do Digital Djing. O curioso aqui é que os mais tradicionais no formato seguem religiosamente a evolução dos CDJ's da Pioneer e de alguma forma isso retira a lógica dos argumentos que usam contra o Digital Djing. Isto quer dizer apenas que o equipamento "standard" nos melhores clubes nos nossos dias são 2 ou 4 CDJ 2000 e um DJM 2000. Na prática qualquer um destes equipamentos não deixa de ser um computador com uma "embalagem" diferente. Todas as funções que muitos criticam (disponíveis nos setups de Digital Djing) são agora de destaque nos tradicionais equipamentos da Pioneer e esses mesmos dj's usam esses recursos com frequência. Por isso fica a pergunta: Se os defensores do CD (os que são contra o Digital Djing) usam o mesmo tipo de funções que criticam, porque dão eles tanta importância aos Digital Dj's? Se a técnica atual é a mesma não existirá aqui um conta-senso?
DIGITAL DJING
Este é o formato mais "elástico" de todos. A manipulação das músicas é teóricamente "infinita". De forma rápida e intuitiva é possível ter o controlo das músicas o que na prática resulta em set's extremamente criativos (quando comparados com os dois formatos acima referidos). A possibilidade de ter um software e controladores que nos permitem exteriorizar sentimentos de forma imediata é um "must"! Neste formato aparecem as ditas funções que os usuários de vinil e cd contestam: a função "sync", as "waveforms", os "efeitos" e muitas outras. Referem esses profissionais que os Digital Dj's não sabem fazer uma verdadeira pré escuta e acerto de bpm's de forma "manual". A pergunta que eu faço no entanto é a seguinte: Será que o público de fato está preocupado com isso, ou será que está apenas e só interessado em ouvir um bom set e se divertir? Para mim, existe aqui uma situação extremamente confusa: os defensores do Vinil e dos Cd's hoje na sua maioria usam sistemas DVS ou seja "Digital Vinyl System" que na prática usa os toca discos e os cdj's como controladores de um determinado software. Isso significa que apenas estão dando seu apoio ao vinil e ao cd de forma teórica, uma vez que durante um set basta 1 vinil ou cd por deck com "Time code" (uma frequência que é enviada ao software de djing) para correrem toda a livraria musical e controlarem as várias músicas no software. Se formos analisar este ponto, vemos que na verdade o uso do vinil e do cd não deixa de ser "falso" pois na prática o que está a tocar é um ficheiro no computador e não o vinil ou o cd em si. Isto na minha visão faz com que o custo dos setups se torne gigantesco e desnecessário uma vez que poderiam esta a usar um controlador que além de poder estar mapeado de forma personalizada conforme a forma de mixar de cada profissional, evitaria o uso dos equipamentos dos clubes que todos usam.
CONCLUSÃO
Acredito que neste momento existe a imposição por quem apoia um determinado formato em fazer com que os outros profissionais "provem" alguma coisa entre si. Na prática quem consome Djing é o público que francamente não está minimamente preocupado para o formato que está a ser usado pelo DJ. O que ele (público) quer na verdade é se divertir e ouvir bons sets. Tal como vários profissionais com que tenho conversado e entrevistado nos últimos tempos declaram: ninguém precisa de provar nada a ninguém entre os profissionais. O estilo, talento, criatividade, apresentação e profissionalismo é o que vai ser considerado quando somos contratados para determinado evento ou o que é considerado quando somos agenciados. Na noite existe espaço para todos e é lamentável que não exista respeito entre os profissionais. Acredito que mais do que nunca e estando a humanidade a passar por uma "crise existencial", é necessária união e respeito entre os profissionais pois no fundo quem "sofre" com esta verdadeira batalha é nada mais nada menos que o nosso "cliente": o público! Existem bons e péssimos profissionais em cada um dos formatos acima referidos. Já está na altura de parar de gastar energias a criticar "como se faz" e focar o nosso trabalho a melhorar a qualidade do produto final: o set. Respeito todo o tipo de Dj's, todo o tipo de tecnologias e acredito que todos devem ficar atentos ao que o mercado nos diz. Se existem equipamentos que nos facilitam o nosso trabalho, será que usar esses recursos é ser menos profissional? No vinil, no cd e no Digital Djing sem talento não existem milagres, por isso acredito que os profissionais deveriam estar mais preocupados com a técnica e qualidade de seus set's do que com a evolução da tecnologia...
Para terminar deixo aqui uma reflexão que surgiu durante uma entrevista: "Será que o usuário de um R8 da Audi é menos talentoso porque o carro possui abs, ebd, esp, controlo de tração entre outros? Será que na prática quem usa carroça ou cavalo para se locomover é melhor que quem usa carro ou moto? Será que quem usa caixa de velocidades automática é menos condutor que quem usa caixa manual? De que vale ficar parado no tempo quando o mundo e a tecnologia avançam?"
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