O FIM DO MP3?
Sabe quando você chega para tocar em um clube, com um sistema de som fantástico e você por mais configurações que faça em seu software e interface de áudio ele não acompanha suas expectativas? Pois bem, a qualidade sonora nada mais nada menos é que o resultado de uma sequência de eventos. Até o som chegar na pista ele passa por um esquema de ligações e equipamentos que podem representar qualidade ou desilusão. Fazendo o caminho invertido começamos nas caixas de som, seguimos para os equalizadores, depois para os amplificadores, o master mixer, o mixer de dj, o interface de áudio e finalmente o seu computador e seus ficheiros. Neste esquema, partimos do princípio que todos os cabos são de qualidade, esse é o primeiro passo. Depois confiamos que um engenheiro de áudio tenha feito a devida adequação dos equipamentos ao espaço. Posteriormente verificamos a qualidade dos equipamentos desse esquema. Tudo continua parecendo perfeito mas o som não o é... Então onde está o problema? A fonte de áudio é na maioria das vezes o problema: o ficheiro!
FICHEIROS DIGITAIS
O surgimento do formato MP3 acompanhou a necessidade de ter mais conteúdo em menos espaço. Com isso a compressão do áudio foi aumentando tendo chegado a níveis para lá de elevados. Se estabelecermos um termo de comparação, os MP3 considerados de alta qualidade a 320Kbps, possuem apenas cerca de 22% da qualidade de um ficheiro em formato WAV. Em termos práticos, seria como ver um vídeo em 240p em uma televisão Full Hd e comparar a experiência com um vídeo em 1080p na mesma televisão. Embora seja possível "ver" o vídeo em ambos os formatos, a experiência é muito mais rica no formato de maior qualidade. Enquanto existe uma verdadeira legião que diz que poucas pessoas conseguem sentir a diferença na pista de dança ela existe e é perceptível através do comportamento do público. Como? Pela compressão exagerada dos ficheiros MP3 o som acaba cansando o ouvido. Este facto é provado cientificamente, o que significa que o público irá ficar saturado rapidamente e involuntariamente se irá afastar da pista perdendo a atenção ao set do DJ. Uma comparação curiosa foi feita por um site alemão para ilustrar este fenômeno: tente ouvir em som alto durante uma noite inteira Pink Floyd e Skryllex, os seus ouvidos com certeza irão perceber a diferença (aqui não estamos falando de gostos musicais e sim de qualidade áudio)... Uma experiência simples para podemos obter opinião própria sobre o assunto, é reproduzir a mesma música nos dois formatos em um bom sistema de som de clube. Notará que os graves são mais profundos e impactantes no formato WAV além de perceber maior profundidade e envolvimento de todos os elementos sonoros.
O MERCADO
A maioria das discográficas disponibiliza os promos em formato MP3 a 320Kbps, isto porque facilita a anexação em e-mail's ao mesmo tempo que não sobrecarrega sistemas de armazenamento baseados em nuvem. Em termos de comparação, recebemos um promo de um produtor recentemente e a mesma música tinha 18Mb em formato MP3 e 85Mb em formato WAV. Mesmo que isto não signifique uma regra em termos de proporção, fica claro que o ficheiro WAV é bem mais volumoso em termos de dados. Uma recente consulta às maiores editoras de música eletrônica mundiais mostrou que apenas 5% dos Dj's pedem ficheiros WAV como formato para os promos. Este é um fenômeno curioso que deixa no ar a questão da qualidade do material usado pelos DJ's. Os Dj's fiéis a um som de qualidade não abdicam do vinil em sua "biblioteca musical". Um desses casos é o Dj Francois K profissional que solicita sempre ficheiros WAV às editoras. Pela pouca abertura dos DJ's ao WAV, é comum ver campanhas nas lojas online de música eletrônica e isso acaba sendo uma excelente oportunidade para os mais puristas.
COMPORTAMENTO
Enquanto vemos a maioria dos Dj's principiantes usando ficheiros MP3 a 192Kbps de forma a poderem afirmar que possuem milhões de músicas no seu HD, vemos por outro lado um crescente número de profissionais que começam a procurar novos formatos de maior qualidade. Enquanto a maioria dos Dj's que usam cd's (originais) apreciam a fidelidade sonora do WAV, a geração de Digital Djing inverteu os valores e procurou mais investir em equipamentos "da moda" ao invés da base de todo o DJ: a Música! Acredito que torna-se cada vez mais necessário "educar" os nossos ouvidos enquanto devemos estar abertos à exploração dos vários formatos digitais de forma a percebermos nós próprios a diferença de qualidade entre eles. É nossa obrigação como profissionais de oferecer ao nosso público a melhor experiência possível.
CONCLUSÃO
Ser um bom DJ não se trata apenas de técnica, de ter o equipamento X ou Y, de ter a playlist do Beatport no seu HD e de ter um bom marketing. Se a experiência que proporcionamos ao nosso público não for rica de forma a "agarrar" todos à pista, o nosso trabalho segue "deficiente". É essencial usar matéria prima de qualidade se queremos oferecer set's de qualidade. No final, o que mais importa é a nossa capacidade de podermos ser exigentes em tudo o que fazemos. Enquanto muitas pessoas não irão perceber a mudança, com certeza irá sentir o seu público na pista durante mais tempo e sem saturação. Pesquise, escute, compare e perceba que quantidade nunca foi sinônimo de qualidade.
E você? Qual a importância do formato digital para o seu público?
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