AS PLAYLIST'S E A PESQUISA DOS DJ'S
Nas últimas semanas a blogosfera e os sites da especialidade têm vindo a receber um feedback super negativo relacionado com um futuro lançamento da Pioneer: o KUVO. Lembram quando falamos há alguns meses atrás do Twitter.dj (Reveja a matéria aqui)? O KUVO é semelhante ao Twitter.dj mas de alguma forma "força" os profissionais a partilharem suas playlists nas redes sociais em tempo real, uma vez que é o clube que acaba controlando as informações que são passadas para a web enquanto o dj apenas pode acrescentar comentários a cada informação compartilhada. Enquanto o Twitter.dj é um aplicativo que interage com os softwares de Dj e lê as tag's das músicas e posta a playlist do set dentro da própria rede, o KUVO, é nada mais do que uma box que se conecta aos equipamentos do Dj via cabo Ethernet e que emite para um roteador as informações diretamente para os usuários do clube e a própria web. Diferenças à parte, o Twitter.dj tal como já comentei anteriormente é uma excelente ferramente para os Dj's poderem usar como fonte de pesquisa uma vez que a rede foi criada principalmente com o objetivo da partilha entre profissionais. O KUVO por sua vez tem uma visão mais generalizada e que tem foco no público final.
A PARTILHA
Esta partilha de temas com o público, tem claramente um intuito comercial no horizonte. Enquanto no passado as Playlist's eram algo quase "secreto" e dificilmente o público tinha acesso ao nome do artista e o nome da música, hoje isso é algo inerente à experiência social. Cada vez mais vemos o público curtir menos o set e mais preocupado em compartilhar o evento ou poses fotográficas no Instagram, Facebook, Twitter e todas as outras redes sociais. Com isso, a partilha das playlist's torna-se algo viral mas nem por isso algo que aumenta a bagagem cultural do público. Por isso mesmo, existem profissionais que se recusam a compartilhar os temas que tocam em seus sets baseados no velho ditado: "O segredo é a Alma do Negócio". Afinal, o público tendo menos informação que o faça distrair durante o set do Dj, poderá usufruir de forma mais completa do que realmente importa: o ambiente e a experiência musical. Da mesma forma isso permite que o Dj possa manter em segredo (pelo menos imediato) aquilo que o diferencia dos outros profissionais e continuar sendo contratado pela experiência única que oferece.
A PESQUISA
Algo que está se tornando cada vez mais distorcido é o conceito de pesquisa musical do Dj. Tal como qualquer outro profissional ligado às artes, o Dj encontra na pesquisa o seu maior aliado para conseguir criar bibliotecas interessantes e lúdicas. O problema é que com a crescente popularidade da EDM (Electronic Dance Music) hoje são muitos os Dj's que baseiam sua pesquisa a uma rotina no mínimo curiosa e que de alguma forma acaba tornando a experiência do público menos rica e mais vulgar. O Dj pesquisa nas tabelas (Charts) das rádios ou de sites e revistas especializadas o Top 10, 50, 100 ou derivados e faz um literal "copy / paste" (copiar / colar) para o seu computador, baixando posteriormente os temas dessas listas. Na prática o que o público irá ouvir é exatamente o mesmo que ouve durante o dia nas rádios. Esta prática gera algo curioso e que infelizmente já não é recente: o Dj pela popularização da profissão tornou-se um "reprodutor de êxitos" e não o agente cultural que era antigamente.
O DJ ENQUANTO AGENTE CULTURAL
Tal como no cinema, teatro, pintura, dança, etc, o público aumenta sua base cultural através de novidades. Ou seja, é através do "consumo" de algo novo que o público aumenta sua bagagem cultural e usufrui de novos conceitos e novas expressões artísticas. O Dj sempre teve um papel semelhante na sua raíz, ele era o personagem principal para os lançamentos dos vários produtores e músicos. As novas músicas chegavam primeiro à pista de dança e só posteriormente às rádios o que permitia uma experiência única e extremamente rica do público que ficava deliciado pela verdadeira "injeção cultural" que levava em uma noite com um bom Dj. Para isso, não só o Dj era o principal receptor de "promos" das várias editoras e artistas independentes como ele era o fomentador das várias sub culturas musicais das pistas. O Dj era ainda acima de tudo um "líder de opinião" e as visitas constantes às lojas de música ou já na internet a editoras independentes e novos artistas eram prática comum no seu dia a dia. A seleção musical do Dj era acima de tudo eclética e variada, sem favoritismos e baseada acima de tudo na "vibe" que ele oferecia ao público durante o seu set. Infelizmente, hoje em dia tudo mudou e não necessariamente para melhor. Hoje quase é impossível distinguir os vários Dj's do segmento comercial. Ouvir o Dj "A" ou "B" acaba sendo quase igual: as músicas são as mesmas e a ordem muitas vezes é também semelhante. Por isso mesmo é difícil encontrar fidelidade nos produtores, empresários e mesmo o público. Se 2 profissionais tocam virtualmente a mesma coisa será difícil que um deles se consiga destacar e firmar sua carreira (por isso mesmo muitos Dj's recorreram à produção como forma de obter o necessário destaque para a solidificação da carreira).
O PRESENTE
Atualmente, a profissão de Dj popularizou-se de forma absurda e é comum escutar de um adolescente que seu "sonho" é ser Dj. A fama exacerbada de alguns "bons Dj's" do passado tornou-se além de extremamente vulgar algo que é interpretado como "vida de Pop Star" e isso tem permitido que vários novos Djs se juntem à arte pelos motivos errados. Ao contrário da paixão pela música, pela cultura, pelas artes e pelas tribos urbanas, os Dj's procuram a tal fama e tudo o que ela proporciona sem preocupação com as bases em que assenta a profissão de Dj. Com isso, a seleção musical está cada vez menos abrangente e a própria indústria força os Dj's a tocarem "mais do mesmo". Sendo assim é lamentável que se tenha perdido o elemento mais importante na minha opinião enquanto consumidor de música eletrônica na pista: o elemento surpresa!
O FUTURO
Felizmente, vários são os profissionais que fartos da competição desleal entre os Dj's comerciais estão voltando às origens e procurando vertentes musicais que gostam e defendem cada vez mais. Esses mesmos podem ser considerados "excepção à regra" (eu incluído) e buscam oferecer playlist's mais ricas e diversificadas, repletas de novidades e temas já com alguns anos mas que nunca obtiveram sucesso na linha "main stream". Talvez por isso mesmo, essa nova classe de profissionais não tem sua agenda preenchida como gostaria e aguarda pacientemente a mutação do mercado que aos poucos busca algo "novo" para oferecer ao público ("Old School" Style). Talvez em breve seja possível escutar novamente na pista temas inéditos que deixam o público "salivando" e pedindo mais, talvez seja ainda possível testemunhar a volta do efeito surpresa, a volta da verdadeira experiência cultural do Djing. Enquanto esperamos, o certo é assumir de forma bem definida a nossa posição, estilo e linha musical de forma a podermos estar munidos das ferramentas necessárias para a volta da diversificação musical e das novas tribos urbanas.
E você o que acha sobre as atuais Playlist's dos Dj's?
Concorda com a partilha dos temas do seu Set?
Como você faz a pesquisa para os seus Set's?
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